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Amamentar é coisa de.....

Amamentar é coisa de pobre. Quem nunca ouviu, né? Dos parentes, dos pediatras e até nas redes sociais (aliás, esse textão saiu inspirado no meme daqui, da minha mana do Quartinho da Dany).


Dizer que amamentar é coisa de pobre... Sabe o que é isso? Preconceito de classe (e uma boa dose de racismo). O antropólogo Darcy Ribeiro, em sua obra intitulada O Povo Brasileiro afirma que “apesar da associação da pobreza com a negritude, as diferenças profundas que separam e opõem os brasileiros em extratos flagrantemente contrastantes são de natureza social”. (RIBEIRO, 2006, p. 215).


De onde veio isso? Bom, a maioria das pesquisas sobre aleitamento começou sim com dados de países africanos. Por quê? Porque lá basicamente quem não mama, morre. De fome, de desidratação. 2017 e criança ainda morre. Então, como lá são países pobres, ficou essa associação né?


Só que, no século XIX, surgiu a indústria dos substitutos do leite materno, num país altamente industrializado como a Alemanha. Lançada em 1865, a Comida Solúvel para Bebês de Liebig era um pó feito à base de leite de vaca, farinha de trigo e bicarbonato de potássio e foi desenvolvida por um químico chamado Justus von Liebig. Graças à essa invenção, nós mulheres pudemos nos encaixar no mercado de trabalho, afinal, não éramos mais necessárias para alimentar as crianças, né? Na Europa, com acesso á saúde e com recursos para se pagar o preço das fórmulas, o aleitamento foi definhando, ficando cada vez mais associado ao "terceiro mundo".


Ok, temos aí um desenho de que se existe leite "quase igual ao humano" e que somente se amamenta na África, temos claramente a ideia de que amamentar é coisa de pobre. Aí você pega o próprio Manual de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria e lá diz, bem no início: apenas 1% do curso de residência é focado em aleitamento. Dessa forma, os pediatras saem mal informados sobre o tema e ainda carregados de sua própria bagagem cultural e reproduzem por aí essa fala, em especial os da rede suplementar ou da rede privada, que, não sabendo manejar o aleitamento, sabem que o bebê estará alimentado "adequadamente" por fórmula especial pra lactente pois os pais podem pagar. Já a premissa no SUS é tentar sustentar esse aleitamento, pois os pediatras sabem que na ausência do peito, o substituto será leite de saquinho diluído, caldo de galinha e de arroz ou água de aveia. Poi zé.




Mas em pleno 2017 não dá mais pra negar as aparências e nem disfarçar as evidências, nem enganar o coração: leite materno é o melhor alimento do mundo, é espécie-específico, muda de acordo coma saúde da mãe e do bebê, sendo a PRINCIPAL VACINA do organismo do lactente. O estudo de mais de 30 anos da turma da UFPEL e colaboradores, capitaneado pelo Prof. Dr. Cesar Victora foi taxativo: quanto mais tempo se mama, maior o QI. Sendo maior o QI, maior a renda, ou seja: amamentar enriquece.


Não deixem mais essa inverdade se propagar. Acreditar que amamentação só funciona até os 6 meses, e que além disso é coisa de pobre é negar o melhor alimento ao seu bebê e entregar os pontos pra indústria, que ganha anualmente quase 1 TRILHÃO de reais com fórmulas lácteas. Se esses bebês que tomam fórmula fossem amamentados, evitaríamos 823 mil mortes por ano. Eu juro que sou grata ao criador do leite artificial, da mesma forma que sou grata ao criador da cesárea: ambas são intervenções maravilhosas na natureza que salvam mães e bebês, mas quando mais de 56% das mães não parem mais, e 59% não amamentam mais do que 6 meses, temos um alto impacto na biologia, numa área chamada epigenética, que estuda como o meio ambiente interfere na expressão dos nossos genes.


No mais, se teu pediatra te disser que amamentar é coisa de pobre e te indicar um substituo do leite materno, e indicar uma fórmula específica, lembre-se: ele é "pago" pra isso e é um puta conflito de interesses. A própria gigante aquela que faz os leites de lata, e não devemos citar pois ameaçam processar patrocina os congressos da Sociedade Brasileira de Pediatria. Acho que vale a pena lerem esse post aqui, ó. Foi escrito por um pediatra, então não tô inventando.


Então fica bem fácil de entender: quem diz que amamentar é coisa de pobre é um baita preconceituoso (e um tanto ignorante), pois quando falamos em classe social, no seu sentido mais amplo, considerando os diversos grupos sociais numa classificação socioeconômica, sua posição ou status na estrutura social, fato que sugere a existência não apenas de duas classes, mas de tantas outras a depender de aspectos como níveis de renda, de escolaridade, de acesso à assistência médica, entre outros fatores, podemos ver que a POSSIBILIDADE de amamentação é uma coisa que nos nivelaria como iguais: A GRANDE MAIORIA DAS MULHERES tem todas as ferramentas biológicas pra amamentar, aliás, a natureza é socialista, né? O que acaba fazendo essa diferenciação é o poder do dinheiro (e teoricamente, do acesso à informação, mas já discutimos isso ali em cima). Aliás, o dyvo Darcy Ribeiro dizia que, como qualquer outro tipo de preconceito, este, motivado pela situação econômica, também se manifesta como um tipo de violência. E quem mais sofre com isso? As mulheres! Então, além de preconceito de classe, é um preconceito de gênero. Pesado, né? Eu sei.


É isso, pessoal, amamentar é coisa de gente bem informada, independente de sua classe social. Amamentar é coisa de quem tem bebê e tem peito, independente de onde mora, de quanto ganha e de sua cor. E amamentar aumenta a renda, e mesmo que você seja rico, e capitalista pacas, que tal fazer com que seu filho aumente ainda mais seu patrimônio, com o aumento de inteligência que o leite materno traz?


Amamentar é enriquecedor. Em todos os aspectos. :)

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as referências estão nos próprios links no corpo do texto.

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