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Abrace-se. Seu corpo é capaz de coisas maravilhosas.


Ontem eu transei gostoso. Depois de muito tempo sem. E quando isso acontece, minha autoestima fica bem abalada. Eu gosto de sexo, sempre gostei. Moço, se você tá lendo isso, quero te mandar um beijo bem gostoso e te dedicar essa música, seu delicio. Ocitocina é foda, dá um barato legal. E esse texto será meio desconexo, pra ver se, no final, ele faz sentido.


Graças a não culpa cristã (fui criada por pai ateu e mãe católica não praticante), aprendi que sexo é bom, que a gente precisa se cuidar, mas que não é uma flor a ser dada pro príncipe encantado apenas. Obrigada pai e mãe. Buenas, o fato é que sempre fui uma namoradeira serial: meus namoros duravam aaaanos e, quando solteira, pegava quem tava a fim. Poucas vezes não fiquei com quem eu queria e, quando mais nova, quando isso acontecia eu pensava no pobre do cara que tinha perdido a oportunidade de me conhecer. E eu tinha essa autoestima da porra mesmo quando fui bem mais gordinha. Pois é, esse é um post sobre autoestima, sexualidade, maternidade e luto, tudo misturado.


Engordei quando vim morar sozinha, almoçando e jantando no RU da UFRGS e comendo pão com ovo nos findis, que era o que dava pra bancar. vejam bem, eu não era gorda. Eu olho essa foto ali de baixo e penso: como é que eu podia me achar feia? Como é que eu me enxergava? Conheci o pai do alemão e, quando pensamos em um dia ter um filho, me reorganizei, pq eu realmente não queria estar muito acima do peso pra engravidar, porque estava com os ovários descompensados e, porque, lá no fundo, eu me sentia culpada pelo peso, afinal todo mundo comentava. Emagreci de boas, sem grandes dietas, sem grandes exercícios. Engravidei, engordei 12 kg, os perdi todos. Separei quando o alemão tinha 3 anos, voltei ao RS e, sem carro, caminhando por tudo, mantive um peso bacana.

(Fevereiro de 2005, com 67 kg bem distribuídos na barriga, bochechas e braços. Não era propriamente gordinha, eu sei, mas o que fazer quando a sociedade diz que tu és?)

Mas olhem pra mim, solteira, gordinha, pegadora e feliz. Cara, eu me achava. E bom, se passaram quase 13 anos dessa foto e o que mudou? A maternidade. Na real, a segunda maternidade. Conheci o pai da Júlia, que era todo saradinho e eu nunca fui, sempre tive uma barriguinha que me incomodava, mas apesar de toda admiração e tesão que eu tinha por aquele homem (e que infelizmente ele nunca acreditou), eu não me sentia feia. Até que, há 3 anos, a gente separou.



E entra a parte do luto. Algum psicanalista disse uma vez que um divórcio pode causar tanta dor quanto uma perda e, apesar do relacionamento ser péssimo, e hoje em dia eu olhar pra trás e ver que separar foi a melhor coisa que nos aconteceu, eu fiquei destruída. Des-tru-í-da. Júlia tinha 4 meses e 26 dias. Eu já havia perdido os 12 kg da gravidez, mais uns 3 kgs pela amamentação e perdi mais uns 5kg. Perdi o gosto pela comida, eu sobrevivi. É tão triste olhar fotos pra lembrar deles pequenos, são feridas muito profundas que agora começaram a cicatrizar, finalmente.


(logo após a separação. odeio essa foto, mas vê-la me faz pensar em quanta coisa já reconquistei).

Essa sou eu, com 57 kg e um BB de 9 meses. Um sorriso forçado. Meu pai esses dias mandou uma foto no grupo da família de “como eu estava bonita magra”. Meu deus, eu havia perdido a vontade de viver, ou de comer, o que pra mim é muito parecido. Lembro desse almoço com ele por dois motivos: foi a primeira vez que a Júlia comeu pão e foi a primeira vez, em 5 meses, que senti prazer numa refeição.

Mas o que isso tem a ver com sexo? Bom, uns 7 meses depois de separados, eu e o pai dela ficamos algumas vezes e foi incrivelmente maravilhoso como sempre, até que rompemos de vez. E eu fiquei 11 meses, 23 dias e 14h sem transar. E eu desmoronei. Primeiro não tinha vontade, depois, não tinha confiança naquele corpo diferente, naqueles seios que pingavam leite, até que parei de me ver como mulher e virei mãe. Me puni e entrei em todos os padrões que o pai dela queria, mesmo ele não percebendo. A morte total desse luto foi quando, um mês depois de eu saber que ele estava namorando, soube que ele seria pai de novo. Como assim, gente? Eu nem mulher era...


Até que eu voltei a comer e beber. Minhas amigas me seguraram, me tiraram do fundo do poço. O feminismo me ajudou a me reenxergar como mulher, além da mãe abnegada que eu não estava gostando de ser. E fui me reencontrando. Fiz umas fotos deliciosas, nua, com a Maíra Suarez, do Meia Luz Fotografia. Isso faz uns 2 anos, mas tem uns poucos meses mesmo que percebi que não levo mais (quase) nada desse relacionamento, e que a ideia de que ele tem de que “eu não sirvo” porque não sou bela, recatada e do lar é um problema dele, e não meu. E fui reencontrando a sexualidade perdida, mas a autoestima ainda abalada. Tipo, não dava like nos caras que curtia no Tinder por medo de não dar match (hoje em dia eu dou e fodacy), não flertava muito porque não me achava bonita, não pegava ninguém nas festas porque me sentia ameaçada pela beleza e juventude de minhas amigas. E hoje, aos quase 40 anos, eu peso muito menos que quando tinha 27 e pegava todo mundo. Onde foi parar aquela autoestima? Dizem que sou legal...mas parece que estou fazendo algo errado por não me encaixar nos padrões que a sociedade espera de mim: casada, estável, cabelos longos, magra, falando de dietas e de amor de filhos e não falando de sexo e política.


(que maravilhosa ser olhada pela lente de outra mulher foda)


Buenas, ocitocinada "pelos hormônios do amor", como diz Michel Odent (no sexo, no parto e na amamentação recebemos muita descarga de ocitocina, e com ela se criam os vínculos amorosos), onde revivi as maravilhas do que meu corpo é capaz, e pensando que é muito triste eu me sentir insegura e rejeitada (por uns sacos de batata, diga-se de passagem) porque não visto 38 nem tenho cintura de pilão, eu resolvi assistir na Netflix o documentário Embrace. Só posso dizer que chorei do início ao fim.


Como que pode a mídia e a sociedade nos torturarem tanto? Todos os dias nos sentimos diminuídas pela nossa aparência. Nos fazem achar que por sermos gordas somos preguiçosas, que nossos peitos caídos são feios, que nossa barriguinha nos faz menos atrativa. Todo dia mulheres sofrem com dietas que as deixam mais fissuradas em comida ainda, e ao invés de sentirem PRAZER num pão com manteiga, estão sofrendo contanto calorias. Mulheres extremamente madras comem bolas de algodão embebidas em gatorade pra manterem a barriga chapada, as costelas aparecendo e as coxas afastadas e, mesmo assim, se sentem feias! Todos os dias uma recém mãe, confusa em seu puerpério, se sente culpada por não caber nas suas roupas de antes, tem vergonha de sua barriga com estrias, ou de seus seios fartos de leite? Todos os dias, mulheres (desde muito jovens) se cortam pra entrarem num padrão quase irreal de beleza. Quando foi que perdemos a alegria das pequenas coisas e de sermos quem somos, pra tentarmos ser quem esperam da gente? Todos os dias eu penso que não estou bonita o suficiente e pouco atrativa, e esqueço o quão maravilhosa eu sou. Ca-ra-lho.


(eu, há uns 10 meses, com 65 kg e com cabelo e FELIZ)

Como é que pode não nos sentirmos confortáveis em nossa própria pele? Quando é que nosso corpo vale mais do que somos, quando é que uma marca de roupa e uma capa de revista definem o padrão que toda uma humanidade tem que seguir? Somos 7,4 BILHÕES de pessoas, temos que ser diferentes.


Diz a frase que li no facebook: o que seria do mundo se todas nós acordássemos nos amando? Não sei quanto tempo guardarei o significado do documentário dentro de mim, mas nesse momento, nesse momento agorinha, eu vou acreditar de novo que eu sou a dona dessa porra toda, e que se alguém não me quiser, esse problema é dessa pessoa, e não meu.


Calma lá, não quer dizer que você não deve ou não pode fazer dieta, querer emagrecer, querer fazer cirurgias estéticas (eu mesma botei botox, e amo/sou). Mas faça por você. Pelo seu prazer. Corra pensando em quão maravilhosa suas pernas são, mas não em quantas calorias vai perder. Cuide de sua alimentação porque é bom, não porque é fit. Coma uma brigadeiro de verdade, e não perca tempo fazendo um de biomassa com sei lá o quê, pra não engordar. faça esse se você é vegana e curte, mas não porque tem menos calorias. A vida já é dura demais pra perdermos momentos de puro deleite.


Sobre meu processo de aceitação? Estamos no caminho. Tenho a cabeça quase toda raspada, quando percebi que não preciso de cabelo pra ser "mulher". Porque eu sou muito mais que essa barriguinha, esse peito meio murcho e essa pouca bunda (rsrsrs): eu pari dois filhos, eu amamentei dois filhos, eu sou inteligente, eu sou cheirosa, eu sou super carinhosa e cuidadosa com as pessoas que amo e eu sei dar e receber prazer. Meu corpo funciona lindamente, e eu preciso abraça´-lo como ele é, porque no momento que eu decidir que a forma dele importa muito menos do que o que eu sou, ou do que as maravilhas que ele é capaz de fazer, as pessoas também não se importarão mais. Dizem que gentileza gera gentileza. Se é assim, sejamos gentis conosco, também.


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Se tu moras em Porto Alegre, vou te deixar uma indicação maravilhosa de uma profissional que pode te ajudar nas questões de transtorno de imagem:

Lauren Faller Psicóloga Clínica Especialista em Psicologia e Reeducação do Comportamento Alimentar. CRP: 07/20297 Cel: (51) 98172-8927

https://www.facebook.com/psicologiaalimentar/?ti=as


Te convido a ler também o relato de transtorno de imagem da Deputada Manuela D´Ávila (PCdoB/RS), aqui.

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